Spotters, ou fotógrafos de aeronaves em Faro
Muitos dos que os vêem colados às redes, de câmara apontada à pista, chamam-lhes “malucos dos aviões”, mas eles – os spotters, ou fotógrafos de aeronaves – garantem que se trata de um passatempo bem divertido. Em Portugal há centenas, mas há milhares distribuídos pelos aeroportos do Mundo. E levam o “hobby” bem a sério.
“Durante muito tempo fui o único que para aqui vinha, estava cá de manhã à noite”, recorda Pedro Aragão, 60 anos, porventura o mais velho dos cerca de 30 spotters que demandam quase todos os dias os corredores de terra batida paralelos às redes do lado nascente
Tudo começou em 1979, trabalhava ele na estação meteorológica
Até que, relata, foi promovido a coordenador – cargo que ainda desempenhou quatro anos - e “teve” que se despedir, porque as novas funções eram incompatíveis com o “hobby”, explica Pedro Aragão, hoje reformado, que já contabiliza mais de 30 mil aviões fotografados.
De resto, coleccionar fotos de aviões como se fossem selos de correio é o tipo de “spotting” mais puro, nas palavras
Que inclui, em alguns casos, fotografar determinada matrícula, que corresponde a determinado modelo e se encontra – provisória ou definitivamente – numa certa companhia de aviação.
Contudo, ressalva
Com várias “coroas de glória” artísticas no currículo,
“Esse foi um acaso feliz, mas essa sorte tem que se procurar e é essa busca estética que me dá gozo”, sublinha o fotógrafo de aviões, também célebre por uma outra foto, de uma aeronave que atravessa uma enorme lua cheia.
Quando começou, durante a Segunda Guerra Mundial, o spotting era simples observação de aeronaves e isso, o simples testemunhar
“Há quem tenha o mesmo avião pintado de cores diferentes duas ou três vezes, porque vai mudando de companhia ou de pintura dentro da mesma companhia”, assinala
No contexto nacional, Faro é considerado um bom aeroporto para o “spotting” devido à limpeza paisagística, que permite imagens sem interferências de arbustos, redes muito altas, postes e candeeiros, ou grandes enchentes de aeronaves, que noutros lugares dificulta a recolha do “motivo” por parte dos fotógrafos.
“Faro é o aeroporto com mais diversidade de companhias aéreas, empatado com Lisboa, a muita distância do Porto e das ilhas”, explica
Um “paraíso acrescido” durante eventos grandiosos, como o Euro 2004, quando a parafernália de modelos e companhias trouxe à capital algarvia e a outros aeroportos nacionais “spotters” de todo o Mundo.
Ao contrário de Pedro e Luís, o jovem
“Sou dos arredores de Loulé e os aviões passavam lá por cima de minha casa. Então pedi à minha mãe para me trazer ao aeroporto, para os ver mais de perto, e um dia tive a ideia de registar os aviões em fotos”, esclarece.
Hoje, cinco anos depois de incubado o doce “vírus”, Ricardo chega a faltar à escola quando sabe que um modelo mais raro vai percorrer – ou já percorreu e vai descolar – a pista
Ele, que nunca andou de avião, é dos que “puros”, que coleccionam matrículas.
“Há colegas ‘spotters’ lá de dentro que me avisam e venho a correr, de mota”, elucida o jovem, que não há muitos dias apanhou uma “seca” de tarde inteira por causa de um raro A310 da companhia White, com hora de descolagem prevista para as 14:30, mas que acabou por levantar voo às sete da tarde.
A aterragem em
“Vim para cá a correr, nem almocei nem nada. Um 747 é uma raridade em Faro, este ano ainda não aterrou nenhum e no ano passado só houve três”, garante, ele que conhece as “ocorrências” de naves raras devido à rede “spotter” que engloba vários trabalhadores do aeroporto.
Como a maior parte dos “spotters”, Ricardo atreve-se a um pequeno monte fronteiro à pista única
Por 210 euros, os entusiastas ficam a saber da aproximação de uma aeronave ainda a
As fotos são depois colocadas
Longe vão os tempos em que o decano Pedro Aragão gastava parte substancial do ordenado no envio de fotos por correio um pouco para todo o mundo, para “trocar os cromos”.
“No meu tempo, gastava 300 euros por mês só em filmes”, afiança o “spotter” sénior, que só em 2004 se converteu ao digital, mas na era da película chegava a gastar um rolo inteiro num avião.
Durante 10 anos, Aragão esteve sozinho por aquelas bandas, “chegava a ficar junto à rede das 6:00 da manhã às 6:00 da tarde sem comer nem beber, quem por ali passava chamava-me o maluquinho dos aviões”, recorda o veterano, que não “faz” matrículas mas apenas modelos
Hoje, continua a fazer esperas prolongadas junto às redes dos
“Em Espanha, onde têm o terrorismo, é compreensível que sejam um pouco mais severos. Pois bem, uma vez vieram ter comigo educadamente, pediram-me a identificação, e no fim pediram-me desculpa pelo incómodo”, relata.
Em oposição, alguns agentes portugueses e vários seguranças “só se preocupam em confundir-nos com terroristas e em tapar-nos um ou outro buraco que haja na rede”, lamenta.
“Não percebem que onde há fotógrafos não há terroristas, eles odeiam ser fotografados”, ironiza, sorrindo, o histórico da fotografia de aviões.
(João Prudêncio)
Fotos: Osores
Um comentário:
Atenção que não é só spotter quem tira fotografias, mas também quem faz videos ou regista apenas as matriculas.
Postar um comentário