Algarve tem plano para fazer regressar os aviões
Dias depois da partida do último avião para solo espanhol, os responsáveis do Turismo algarvio dizem ter uma estratégia para que voltem as rotas de Madrid e Barcelona… levanta-se a ponta do véu.
Responsáveis do Turismo algarvio confessam que ainda não se recompuseram do fim da rota entre Madrid e Faro, que prometia fazer mudar algumas especificidades no tipo de visitas de que somos alvo por parte de “nuestros hermanos”.
Um turismo baseado no “coche relleno” (carro atulhado) e nas estadias de curta duração, que se traduz no menor número de pernoitas de todas as nacionalidades que demandam o Algarve: em média, pouco mais de quatro noites por cabeça, menos ainda que os portugueses, com seis, e a longa distância das nove noites dos “campeões” britânicos.
O que mais criticam é o facto de a Ryanair não ter dado oportunidade às novas rotas: o director de marketing do aeroporto de Faro, Francisco Pita, assegura que o prazo de estabelecimento de uma nova rota nunca é inferior a seis meses e chega a atingir três anos.
Ora, observa, no caso da capital catalã os aviões da Ryanair não se mantiveram no ar mais de seis meses. Nem com voos a um cêntimo.
“No caso de Madrid, passámos de zero para sete voos semanais, a que se acrescentaram durante algum tempo três voos para Barcelona. Assim, e sem que haja um trabalho anterior, é difícil aguentar”, sublinha por seu lado Daniel Queiroz, director executivo da Associação de Turismo do Algarve (ATA).
A explicação dos sete voos da capital espanhola reside, explica Francisco Pita, no tipo de passageiros que se pretendia captar: além dos fluxos turísticos normais, baseados no sol e mar, os homens e mulheres que se sentaram à mesa das negociações – há rondas negociais entre as operadoras de “low cost” e os responsáveis turísticos algarvios – queriam captar outro mercado: o passageiro de negócios.
“Queríamos abrir fluxos turísticos, mas também fazer de Faro uma plataforma para os voos entre Madrid e Huelva”, sublinha o director de marketing do aeroporto algarvio, explicando que esse tipo de mercado só resulta se houver voos diários, porque se baseia nas curtas estadias.
Contudo, o peso desse sector no total de fluxos de Madrid para Faro ainda não foi estudado com profundidade, o que depende de um inquérito já feito (felizmente, porque agora a rota acabou) mas ainda não trabalhado.
Faro é o 2º aeroporto da Andaluzia
O peso potencial do mercado interno espanhol na infra-estrutura aeroportuária da capital algarvia é acentuado pelo ex-secretário de Estado do Turismo de António Guterres, Vítor Neto: “O maior aeroporto da Andaluzia é Málaga, com 12 milhões de passageiros por ano. Sabem qual é o segundo?”, questiona, em jeito de desafio, pausando para fazer emergir o suspense. “É Faro!”.
De facto, explica, com cinco milhões de passageiros por ano (este ano já ultrapassou essa meta), Faro deixa a magnificente Sevilha (pouco mais de dois milhões de passageiros) pelo caminho, bem como todas as outras cidades meridionais espanholas à excepção de Málaga.
Observa ainda Vítor Neto que “isto não acontece por acaso” e que “não se inventam fluxos de passageiros”. Tem a ver com tradições culturais, como as que trazem até nós os súbditos de Sua Majestade, esclarece.
Daí que o ex-responsável máximo do Turismo português acredita numa lógica de longo prazo que faça com que o Algarve passe a fazer parte do roteiro de férias (e não apenas de passeatas de fim-de-semana ou de Páscoa) da classe média dos grandes centros urbanos espanhóis.
Por agora, constata, o Algarve é uma das regiões portuguesas com menos poder de atracção para os espanhóis. São seis milhões que escolhem a região, mas 95 por cento não passa cá férias. É o “coche relleno” em todo o seu esplendor.
Vítor Neto acredita que a classe média espanhola começa a ficar cansada da Andaluzia, embora aquela região continue a ser a mais procurada para banhos pelos nossos “hermanos”: 10 milhões de espanhóis passam férias na região vizinha do Algarve.
“Esse cansaço baseia-se em estarem fartos de um Turismo baseado no betão e na massificação”, diagnostica, invocando uma série de artigos recentes sobre o assunto no diário El País, e opinando que o sul português “pode constituir um contra-ponto” de qualidade relativamente a tanta construção em altura, trânsito e confusão balnear. Cá também há, mas menos.
Começar pela Andaluzia
Todavia, o também presidente da Associação dos Empresários da Região do Algarve (NERA) elogia a política do “pé ante pé” que será posta em prática brevemente pelos responsáveis pela promoção do Turismo algarvio, ao elegerem a Andaluzia como a próxima aposta espanhola do “destino Algarve”.
“A estratégia baseia-se em fazermos mais promoção na Andaluzia, mas não aos que estão aqui à nossa beira, que vêm e vão no mesmo dia. Aos outros, que estão num raio de 300 a 500 quilómetros”, revela António Pina, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), consciente que a promoção da região em Espanha deve começar pelo mercado vizinho, de oito milhões de habitantes, residentes num território do tamanho do Continente português.
“Se fizermos mais promoção, em cidades como Granada, Córdova e Sevilha, eles [os andaluzes] são aliciáveis”, acrescenta António Pina, informando que estão previstas grandes acções naquelas cidades para os próximos meses.
Segundo o presidente da RTA, no que respeita às low cost, a estratégia é “trazer o jogo para o nosso tabuleiro”, isto é, mostrar às empresas de transporte que apostam no baixo custo das viagens que o futuro não depende deles, “mas que há oportunidades que eles têm que agarrar, senão outros as agarram”.
Apesar do interesse pelos vizinhos andaluzes, o director executivo da ATA, Daniel Queiroz, esclarece que “continua aberta a hipótese de Madrid e o Algarve está em cima do acontecimento”. Isto é, na mesa das negociações.
Contudo, se a estratégia der certa, que ninguém se espante que, dentro de alguns meses, comecem os voos de (e para) Córdova ou Granada. E que o nosso linguajar turístico se baseie mais no castelhano e menos no inglês.
(João Prudêncio)
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