quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

As Boas Festas!


As Boas Festas

As festividades do Natal e Páscoa foram as únicas entre nós que receberam qualificativo de "boas", de que se conserva ainda hoje um resto na frase - "Boas Festas" - não só no sentido de as desejar ou dar, mas também na denominação dos presentes que se oferecem naqueles dois períodos do ano.

Não pode ser precisado de onde veio aquela denominação, que é inegavelmente antiga, no entanto a sexta-feira de Paixão e o sábado de Aleluia, são expressos em alguns documentos - não portugueses -, respectivamente por: "feria bona sexta e feria bona sétima".
Dar “Boas Festas” é uma expressão similar há de dar as janeiras, os reis ou as feiras; assim como se dão ou desejam simplesmente as Boas Festas por ocasião das celebrações anuais de nascimento e morte de Cristo (festa pascual), também no 1º. de Janeiro se dão as janeiras, em 6 do mesmo os "reis", e por ocasião de certos mercados anuais dão os padrinhos aos afilhados as "feiras" - e quando há esquecimento, os pretendentes fazem-se muitas vezes lembrar… É o que se diz pedir as janeiras, os reis, as feiras e, principalmente nas cidades - as Boas Festas!
Modernamente e nos grandes centros é uso de dar as Boas Festas: uma convenção graciosa, a pessoa que pretende obsequiar outra com uma oferta por qualquer razão, espera até estes tempos para, acobertada pelo costume corrente, agradecer um favor ou insinuar-se no ânimo de alguém mais ou menos insensivelmente. Quando não há razão de maior peso para oferecimento, recorre-se ao simbolismo de um bilhete, muitas vezes "cromolitografado", especialmente entre senhoras e crianças.
Tanto pelo Natal como pela Páscoa percorrem as ruas de Lisboa, bandos famélicos de perús guardados por indivíduos vindos de dezenas de léguas, unicamente para oferecer à venda pública algum casal daquelas aves. É este habitualmente o presente de boas-festas que menos esforço exige do pensamento.
Oferecer perus pelas festas mencionadas é uso contemporâneo, já no sec. XVI e talvez no XVII, existia esse hábito, como adiante veremos.
É nestas épocas que há no nosso povo, especialmente das cidades, uma explosão terrível do seu vício fundamental, o da mendicidade mais ou menos elegante.
Não há meio que não empregue qualquer classe trabalhadora para obter um quanto de espórtulas. Os barbeiros adquirem caixas de música com que destemperam os tímpanos dos pacientes, a quem vão desbravando as faces; os carteiros e os telegrafistas e guardas-nocturnos, também não se esquecem de entregar o seu próprio cartão, desejando muito respeitosamente "boas festas", como também de pedir insistentemente a conveniente resposta…
No pouco que vou referindo encontram-se elementos de origem muito diversa e de diferentes períodos cronológicos. Destrinçar estes elementos e determinar a proveniência respectiva deles afim de encontrar o mais primitivo, é tarefa interessante mas árdua. O melhor método seria classificar em diversas rúbricas os usos e costumes observados ainda hoje, nas festas e por meio de documentos antigos, chegar-lhes às origens. O resultado desse trabalho deveria ser um tomo volumoso, motivo pelo que o leitor poderá prever não encontrar neste artigo mais do que alguns apontamentos lançados ao ar.
Em dias de Reis, era uso o monarca conceder mercês. No dia de indulgências (6ª.feira de Paixão, ou de enduenças - conforme a etimologia da Dra. Carolina de Vasconcelos, na revista Lusitânea III), o monarca perdoava aos criminosos e perdoa "em memória das sacratíssimas paixão e morte do Nosso Senhor Jesus Cristo, solenizadas pela igreja, nesse dia de Sexta Feira Maior", conformando-se com a "antiga prática seguida nestes reinos de usar da minha clemência por ocasião da Semana Santa". O que fica transcrito vêm no decreto de 13 de Abril de 1900, que está publicado no Diário do Governo do dia seguinte, sábado da Aleluia.
Pelas quatro páscoas do ano, é costume inalterável o fabrico, compra ou troca de bolos, que variam de nome e talvez de composição, de terra em terra. Seria interessante formar um índice geográfico da distribuição destes nomes. O Natal têm broas, as filhóses e os coscorões, a Páscoa os cabritos, as amêndoas e os bolos com um ovo no interior, emparelhando com o bolo de dia de Reis, de origem estranha provavelmente…

Este trecho foi transcrito, com algumas alterações, da extinta Revista Mensal de Etnografia Portuguesa - "A TRADIÇÃO", de Março de 1990!
… mais que passado um século, é curioso constatarmos que ainda (hoje) existem hábitos enraizados no nosso povo!

E já agora: BOAS FESTAS para todos os “astronautas” do blog!

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