Novo Aeroporto
Decisão derrapou para novo ano, depois de se ter tornado tema político incontornável em 2007
A decisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa deverá ser tomada, finalmente, em 2008, depois de um ano em que o tema se tornou politicamente incontornável e o Governo foi obrigado a recuar, pela chamada sociedade civil.
A escolha da Ota para a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa foi confirmada em conselho de ministros a 22 de Julho de 1999, mas o relançamento do projecto, orçado em 3.100 milhões de euros, foi feito pelo actual Governo, que fixou 2017 como prazo para a entrada em funcionamento da nova infra-estrutura.No entanto, em Março deste ano, quando a construção do novo aeroporto na Ota já era tida como certa, a polémica em torno da localização instalou-se, com os partidos da direita a questionar se a Ota seria a melhor solução técnica e económica e a esquerda preocupada com o financiamento.
O abate de cerca de 5.000 sobreiros, a movimentação de 50 milhões de metros cúbicos de terra, o desvio da Ribeira do Alvarinho e a necessidade de expropriar 1.270 hectares, foram algumas falhas apontadas à Ota.Confrontado com estas críticas, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, manteve-se firme em defesa da construção do novo aeroporto na Ota, afirmando tratar-se de uma «opção viável», de «um projecto sustentável tecnicamente».
«Não tenho nenhuma obsessão senão resolver um problema», afirmou o ministro das Obras Públicas, em resposta às críticas da oposição, que o acusavam de ter uma «obsessão» pela localização do novo aeroporto na Ota.
A polémica em torno da localização subiu de tom quando, em Maio, durante um almoço promovido pela Ordem dos Economistas, Mário Lino afirmou que a margem Sul do Tejo era «um deserto».«O que eu acho que é faraónico é construir um aeroporto na margem Sul, onde não há gente, não há escolas, não há hospitais, não há indústria, não há comércio, não há hotéis», afirmou Mário Lino, acrescentando que todos os especialistas que ouviu sobre esta localização lhe disseram «na margem Sul 'jamais'».
O governante esclareceu depois que comparou a um «deserto" Poceirão, Rio Frio e Faias, localizações alternativas para a localização do novo aeroporto, e não a região da Margem Sul do Tejo, e que as suas palavras sobre a construção da nova infra-estrutura foram mal interpretadas, alegando que nunca tinha dito "na margem Sul 'jamais'».
Em Maio, é a vez do Presidente da República intervir, solicitando a realização de um debate aprofundado sobre o novo aeroporto de Lisboa.O debate realizou-se a 11 de Junho, no dia em que Cavaco Silva recebeu das mãos do presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) um estudo patrocinado por aquela confederação patronal que apontava Alcochete como alternativa à Ota para a construção do novo aeroporto.
Durante a sua intervenção no debate na Assembleia da República, Mário Lino anunciou que o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) iria fazer um estudo comparativo entre a Ota e Alcochete, com o objectivo de saber qual o local mais adequado para construir o futuro aeroporto.
O documento teria de estar concluído no dia 12 de Dezembro.De acordo com o documento da CIP, esta hipótese de localização, que já tinha sido analisada em 1972 no primeiro estudo do Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, que apontou Rio Frio como a melhor solução, permitiria uma poupança de 3.000 milhões de euros face ao projecto programado para a Ota.
Depois da divulgação do estudo da CIP, o presidente daquela confederação acusou o ministro das Obras Públicas de ter accionado uma «campanha desesperada» para destruir o estudo patrocinado por aquela confederação patronal.Van Zeller referia-se assim à «publicação programada» para três dias seguidos e em três jornais diferentes de notícias «dando conta de alegados erros» no capítulo das acessibilidades do estudo da CIP, com base num estudo da RAVE, empresa responsável pelo projecto português de alta velocidade.
Por sua vez, o administrador da RAVE, Carlos Fernandes, explicou que o estudo da CIP sobre o novo aeroporto de Lisboa, além de não contabilizar 1.700 milhões de euros, apresentava «incorrecções na caracterização técnica e financeira da ponte Chelas/Barreiro». Surge então o estudo patrocinado pela Associação Comercial do Porto (ACP), que defende a solução Portela + 1, apontando o Montijo como melhor localização para o aeroporto complementar à Portela, mas admitindo também como uma boa solução a opção por Alcochete.
De acordo com os cálculos efectuados pelos técnicos do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica, esta opção permitiria uma poupança de dois mil milhões de euros relativamente ao projecto de construção do novo aeroporto na Ota.Contudo, no dia 5 de Dezembro, a sete dias da data prevista para a apresentação do estudo, o LNEC adiou para a segunda semana de Janeiro a entrega do estudo comparativo sobre o Novo Aeroporto de Lisboa.
No comunicado que anuncia o adiamento, o LNEC explica o alargamento do prazo com «a necessidade de compatibilização, harmonização e consolidação dos vários estudos parcelares que, sob a coordenação do LNEC, têm estado a ser realizados pelas equipas de especialistas nacionais e estrangeiros».
A decisão final sobre a localização deverá agora ser conhecida no início do próximo ano.
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