Patti Smith no Coliseu de Lisboa: Mais vale tarde do que nunca...
Lisboa era o último concerto da digressão «Twelve», e a engrenagem do grupo de Smith estava oleada para proporcionar uma simbiose de energia com o público. A heterogenidade de idades da plateia reflectia a longa carreira da poetisa do Punk assim como a sua qualidade.
O Coliseu esperava uma lenda viva da música norte-americana e não se desiludiu com a excelência do concerto de domingo. A mãe do Punk entrou em palco e logo começaram a agitar-se as cadeiras. As crianças precisavam de ser amamentadas e a poetisa alimentou-as de sons, palavras, e música.
O concerto começou morno, com Patti Smith a palmilhar que tipo de público tinha à frente ao som de Privelege (Set me free), onde a frase send me energy profetizava uma noite de comunhão entre a artista e o público. Os aplausos contagiavam a plateia e só silenciavam quando Smith interpelava o público com a sua voz.
Com Are you Experienced? de Jimi Hendrix, ainda se ouviu uns acordes de Voodoo Child, com grande destaque para o guitarrista Lenny Kaye a demonstrar profissionalismo e um grande à vontade com a sua Stratocaster.
A linha imaginária que dividia o palco da plateia começa a desvanescer e Patti Smith começa a fazer pequenas investidas nessa ténue fronteira, lembrando Anthony Quinn em «As Sandálias do Pescador» testando a linha que marca uma fronteira. A energia começa a acumular e Smith começa a ficar mais agitada em palco, sentindo-se mais confortável, começa a dançar entrando em transe ao som de Ain´t it Strange.
Com os limites testados, Patti resolve quebrar as fronteiras, evoca Fernando Pessoa e calmamente caminha para o meio do público sentado, distribui apertos de mão e sorrisos. A multidão em euforia lenvanta-se para tocar ou ver mais de perto a lendária autora de «Horses». Os seguranças seguem-na atentamente. Smith vagueia pela sala de espectáculo. Cumprimenta o técnico de som enquanto a sua banda toca em palco.
Com um desfile de clássicos como Because the Night, Gloria (Van Morrison), Soul Kitchen (Doors) ou Smells Like Teens Spirits (Nirvana), e já com a plateia de pé, Patti Smith rende-se ao público do Coliseu que canta em coro.
Entre uma música e outra o público vai sendo instigado por palavras politizadas contra o conformismo e vai deixando o apelo para que se mantenham sempre independentes das grandes corporações como a Starbucks . Faz referência ao seu falecido marido Fred Sonic Smith (guitarrista da banda de Detroit MC5) apelando Power to the People!
A letra de Perfect Day de Lou Reed esvai-se na emoção, mas é perdoada por ...is just a perfect day , drink coffee with Pessoa..., que antecipa o clássico Rock and Roll Nigger com o refrão Outside the Society a provocar flashs do filme «Natural Born Killers» de Oliver Stone.
Se ao concerto de domingo era suposto assistir-se sentado, a entrega e a intensidade de Patti Smith, levaram o público a invadir os corredores e o fosso entre o palco.
Em 2001 Patti Smith já tinha dado, em Lisboa, um pequeno concerto improvisado, durante uma declamação de poesia no Pavilhão Carlos Lopes. Para muitos que lá estiveram foi uma preliminar do grande concerto de ontem, no Coliseu - sem dúvida, um dos melhores do ano.
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