O "Milagre do Sol" - há oitenta anos! (a)
No próximo dia 13, faz (precisamente) 80 anos do "milagre solar", ocorrido na Cova da Iria. Muito se tem falado e escrito sobre esse fenómeno, presenciado por milhares de pessoas de todas as classes sociais, e como diria, na altura, o repórter Avelino de Almeida, no jornal O Século (de 15 de Outubro): "toda essa multidão - milhares de criaturas que foram de muitas léguas em redor e a que se juntaram fiéis idos de várias províncias, alentejanos e algarvios, minhotos e beirões - congregam-se em torno da pequena azinheira…era esse o ponto de encontro" - uma árvore que já não era árvore. Existia apenas «um fragmento de dez centímetros de fora da terra, pois que a têm pelado para recordação» (Carlos Silva).
Mas voltando ao chamado "Milagre do Sol", e melhor do que ninguém para o descrever - e analisar nas várias vertentes -, são os investigadores Fina d'Armada e Joaquim Fernandes, autores do livro "As Aparições de Fátima e o Fenómeno OVNI".(1)
…O dia 13 de Outubro de 1917 amanheceu cinzento. As nuvens ameaçavam tempestade. A dada altura começou a chover, encharcando os caminhantes. «A chuva era tanta», contou-nos (em Julho de 1978) a testemunha Júlia Franco, «que me lembro de tirarmos o casaco a uma irmã e o torcemos. Largava tanta água como roupa lavada». No local, todo enlameado de barro vermelho, as pessoas esperavam impacientes. Esperavam, não sabiam o quê, esperavam qualquer coisa. «Não havia nadinha onde uma pessoa se pudesse sentar», continua Júlia Franco. E fazia muito frio naquele sítio árido, sem abrigo, sem uma casa em redor.
De súbito, viu-se uma nuvem escura, e foi assim que chegou essa "qualquer coisa" que esperavam…
A «nuvem», vinda de leste, deve ter chegado pontualmente ao meio-dia solar - cerca de uma hora e trinta e sete minutos. A longitude de Lisboa é de + 0h 36m e 34s de Greenwich, mas, naquele ano, seguia-se a hora nova, ou hora de Verão, iniciada em 28 de Fevereiro e terminando no dia seguinte: 14 de Outubro. Como o diálogo com os videntes demorava cerca de dez minutos, é provável que a «nuvem» tivesse chegado ao local ao meio-dia solar em ponto. Dez minutos depois - cerca da uma hora e quarenta e sete minutos - iniciou-se então o "milagre" anunciado com três meses de antecedência.
«Vi uma nuvem escura vinda do nascente», testemunhou o agricultor Joaquim S. Jorge. Habituado a distinguir bem as nuvens na atmosfera, regulando por elas até o seu trabalho - para essa testemunha essa nuvem deveria ser diferente das habituais. Mas houve outras «nuvens» antes do "Milagre do Sol", da «nuvem escura» terá saído… outra mais pequena. Entretanto a «nuvem» primitiva continuava no espaço.
Ferreira Borges, que chegou atrasado, já na hora que o diálogo entre a Lúcia e a Entidade decorria, relata: «Ouvi as pessoas a dizerem que tinham visto uma nuvem branca vir de leste e pousar sobre o arbusto e que ainda a estavam vendo». Depois a chuva pára e uma nuvem pequena muito branca e brilhante corre no céu e toda aquela gente que rodeia a azinheira cai de joelhos sem se importar com a lama.
Mas vejamos os testemunhos de outros "presentes" nesse dia, na Cova da Iria - Fátima:
«À uma hora, as nuvens tornaram-se numa massa muito densa e escura, dando a ideia de um eclipse. Nesse momento olhei para a multidão e tive a impressão de que era o dia do Juízo Final. Os rostos pareciam emagrecidos, compridos e amarelos. Então a nuvem negra abriu, dividindo-se, e pela abertura vimos o Sol brilhar, girando como uma bola de fogo». É interessante observar que esta testemunha se refere à «nuvem negra», no singular, devendo ser a mesma que o agricultor Joaquim Jorge designou por «nuvem escura» quando a viu aproximar-se do local, vinda do leste.
«As nuvens começaram a esfarrapar-se e a abrirem-se (permitam-me a comparação) como se fora o pano dum teatro para deixarem ver o Sol dardejando…»
«As densas nuvens não se desvaneceram mas abriram um buraco e então vimos o Sol…»
Mas parece que a estranha nuvem, vista em Fátima, apresentava outras particularidades ovnilógicas - aparecia e desaparecia, exibindo-se sob mutáveis efeitos cromáticos. Outra testemunha, a Sra. L. de S., da revista Raio de Luz, quem nos relata este pormenor: «Uma nuvem linda, ora cor de fogo, ora roxa, ora cor-de-rosa, ora dourada, se mostrava e desaparecia sucessivamente, reflectindo-se a cor não só em todos os circunstantes como em todo aquele recinto».
Encontramos uma descrição semelhante na obra de Robert Roussel, referente a uma observação feita em Vendée, França, em 10 de Outubro de 1975: «O Sr. M.P.André viu no céu, na direcção de sudoeste, um engenho de cor cinzenta do tipo do Sol, coberto por uma nuvem de diferentes cores sobrepostas, vermelha, verde, amarela e laranja. Esse fenómeno fazia lembrar uma lua redonda de cor apagada que não se mexia dentro da sua nuvem de cor cintilante». Também Augusta Saraiva Vieira de Campos, nos diz: «Vimos um véu prateado, com forma arredondada, como se fosse a lua cheia. Ouviam-se gritos de todos os lados quando se destacava do Sol como que uma forma branca de neve, brilhante, sem ferir a retina, vindo para nós…». A senhora Jota, dotada de uma acuidade visual fora de série, conta-nos que «No céu, lugar onde a nuvem se desviara, aclarou… e vimos um globo prateado…Agora esse globo ou esfera…. rompe, em todo o esplendor, uma nuvem ou chama vermelha brilhantíssima que o encobria». Após as manobras do "seu" globo, "mudou o cenário uma nuvem amarela, dourada; e assim foi desaparecendo esta realidade que aos mortais parece um sonho!» E antecipando-se muitos anos na interpretação do fenómeno aos seus circunstantes, alguns deles culturalmente muito superiores, desabafa: «Como foi e donde veio, não sabemos explicar». Era católica, tendo-se até alojado na véspera, com uma filha na residência do pároco.
O chamado "Milagre do Sol" foi deveras uma realização superior, sem paralelo na história humana conhecida!
Continuemos hoje a observar o "milagre" através dos olhos dos portugueses de então:
O jornal Beira Baixa (20 de Outubro de 1917), após ter recebido diversas cartas descrevendo o fenómeno, comunicou aos seus leitores: «O Sol descobre-se, fica com uma luz estranha, podendo ser fitado como a Lua cheia. A luz passa por diversas gradações, parecendo umas vezes que o globo solar é cercado duma auréola de chamas, outras vezes um disco metálico como de prata».
Na revista Stella (de Janeiro de 1962), o testemunho do Eng.º Mário Godinho, que olhou o "Sol" com olhos de técnico. E deixou-nos escrito: «Num céu radioso, o Sol podia ser encarado de frente e de olhos abertos, sem pestanejarmos, como se olhássemos para um disco de vidro polido, iluminado por detrás, irisado na sua periferia, tendo como um movimento de rotação… E o Sol não tinha o fulgor que nos fere a vista nos dias normais, pois era um disco majestoso, magnético, que nos atraía e revoluteava no céu imenso…».
Para terminar, alguns testemunhos menos pormenorizados, mas que no entanto fornecem-nos algumas indicações quanto ao formato e características desse disco (ou globo):
Pereira Gens, médico: «No zénite, o astro-rei recortava-se como uma hóstia colossal».
Inácio Loureiro, padre: «Era como um globo de neve…»
Madalena Patrício, escritora: « O tom acinzentado de madrepérola transformava-se como numa chapa de prata luzidia… O Sol prateado, envolvido na mesma leveza cinzenta de gase…».
Carlos de Azevedo Mendes, advogado: «Vi o Sol, como se fosse uma bola de fogo, começar a mover-se nas nuvens…».
Gilberto dos Santos: «Vi o Sol, parecendo um disco de prata fosca, mas mais luminoso que a Lua».
O processo do «milagre» ou o anti-absurdo explicativo
O «milagre» passo a passo - reconstituição e confrontação de uma hipótese
De posse do maior número possível de dados, originários de um conjunto apreciável de testemunhas, vamos procurar reviver o ambiente muito particular da Cova da Iria - recuando até 13 de Outubro de 1917 - armados com uma confortável soma de elementos que os nossos compatriotas da época não possuíam. Com os olhos e as palavras dos nossos dias, em que a presença dos OVNIs é quase permanente, vejamos o que terá passado nessa singular demonstração alienígena:
1ª. fase - Uma «nuvem especial» surge no céu vinda dos lados de Espanha (leste). Dessa nuvem, que envolve um engenho portador, é largado, a meio do percurso entre leste e o sul (posição do Sol), um globo prateado do qual é emitido um feixe de luz troncada que serve de transporte à Entidade Ouraniana (2) até junto da pequena azinheira.
2ª. fase - À medida que o diálogo se processa entre os videntes e a "Senhora", é observado o globo prateado, aparecendo e desaparecendo por períodos de três a quatro minutos, no local da «nuvem», envolvido por ela.
3ª. Fase - Terminado o diálogo, a Entidade é recolhida pelo mesmo processo, reentrando no globo prateado, parecendo aos videntes que «as portas se fecharam». Então a «nuvem» portadora corre no céu para uma posição em que se antepõe ao verdadeiro Sol. Um dos testemunhos, referindo o termo «escada» perto do Sol, poderá estar a dar-nos o aspecto autêntico do objecto portador - um convencional OVNI fusiforme, tipo «charuto», com vigias.
4ª. Fase - A partir dessa nave-mãe, controlo de todo o fenómeno, os não identificados começam a provocar a dissipação das nuvens que rodeiam o Sol, especialmente as baixas e as médias. A chuva pára. Há a segregação de uma massa de «nuvens», entrecortadas por clarões rápidos em frente ao Sol, sendo lateralmente afastadas ou abertas para deixar sair um disco luminoso, possivelmente o mesmo globo prateado observado antes.
5ª. Fase - Esse disco ou globo destaca-se então na vertical solar, começando a executar os seus diferentes movimentos, observados a partir de quatro locais considerados (Cova da Iria, Minde, Alburitel e Aljustrel).
6ª. Fase - O disco desce até uns trinta metros do solo, tendo na sua trajectória - com uma orientação sensivelmente sul-norte - libertado sobre a multidão uma onda de calor, responsável pela secagem do vestuário das pessoas e do próprio solo, bem como pela cura de alguns doentes situados na faixa dessa trajectória.
7ª. Fase - O OVNI ascende novamente e torna-se claro, talvez transparente, tendo algumas testemunhas detectado entidades no seu interior, que parece terem saudado a multidão.
8ª. Fase - Esse pseudo-Sol reentra na «nuvem» portadora, dourada, afastando-se da vertical do Sol.
A partir daqui está explicado o fenómeno dos efeitos, que, pela sua particularidade, tem servido para desacreditar as aparições e concretamente a manifestação do dia 13. Desta feita, não se poderá mais acusar as testemunhas de contraditórias ou inventivas. Noutros casos de observações ufológicas, tem-se verificado esta sequência. Curas instantâneas, sensações de calor e efeitos de secagem são manifestações perfeitamente limitadas à zona mais próxima da vertical sobrevoada pelo fenómeno.
Enfim, o que ainda em 1917 era milagre, pode ser hoje um facto perfeitamente inteligível no quadro da fenomenologia OVNI. Em conclusão, a síntese do fenómeno OVNI e das aparições marianas - ou a união de duas faces de uma mesma realidade - levar-nos-á, algum dia, à definição final de universos e realidades que nos ultrapassam e se situam, como profeticamente afirmava H. P. Lovecraft: Além do Alcance da Nossa Fantasia!
(1) - D'ARMADA, Fina e FERNANDES, Joaquim - "As Aparições de Fátima e o Fenómeno OVNI", 3ª. Edição revista e actualizada, Editorial Estampa, 1995.
(2) - Do grego OURANOS, que significa céu. Ouraniana = a Senhora do céu.
(a) – Artigo publicado pelo autor em “Região Sul”, em Outubro de 1997.
Ilustração de J. Sottomayor.
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