quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ciência: ser dorminhoco está nos genes…




Os genes que controlam o nosso relógio biológico diário influenciam o processo reparador do sono e podem conduzir à necessidade de dormir durante o tempo em que deveríamos estar acordados!



A equipa internacional de investigadores salienta que já era conhecido que os genes que controlam as 24 horas do nosso relógio biológico, ou ritmo circadiano, influenciam o nosso tempo de sono, mas não tinha sido provado que também são fundamentais para o processo reparador do sono, como aconteceu neste estudo, que identificou as mudanças no cérebro que levam ao aumento da vontade e da necessidade de dormir durante o tempo em que se está acordado.
O ciclo circadiano designa o período de aproximadamente um dia, ou 24 horas, sobre o qual se baseia todo o ciclo biológico do corpo humano, influenciado através da luz solar, regulador de todos os ritmos biológicos e alguns psicológicos, como a digestão, o estado de vigília, o crescimento e renovação das células, assim como a subida ou descida da temperatura.

Ainda não sabemos concretamente por que é que beneficiamos com o sono, nem por que é que nos sentimos cansados quando temos falta de dormir, mas parece provável que o sono ajuda alguma função básica do cérebro, como a restauração de energia das células ou a consolidação da memória», explica Bruce O'Hara, da Universidade de Kentucky, EUA, um dos neurocientistas que conduziram as investigações.
«Descobrimos que a expressão dos genes que controlam no cérebro o nosso ritmo circadiano está altamente relacionada com a acumulação de sono em dívida, enquanto descobertas anteriores já tinham ligado esses genes ao metabolismo energético», afirmou, acrescentando que «juntas, estas descobertas apoiam a ideia de que uma função do sono está relacionada com o metabolismo energético» do corpo.
Para explorar a relação entre a expressão dos genes que regulam este relógio biológico e o sono foram usados três ratinhos de estirpes puras e com diferentes marcadores genéticos, que tinham previamente demonstrado diferir na forma como respondiam à privação de sono, num teste conduzido por Paul Franken, investigador nas universidades de Stanford, EUA, e de Lausanne, Suíça.
Neste estudo, as cobaias foram primeiro privadas de sono durante o dia, altura em que os ratos normalmente dormem, e depois foi-lhes permitido recuperar o tempo de sono.
Nas duas fases os investigadores examinaram na totalidade dos cérebros dos três animais as alterações provocadas na expressão dos genes do relógio biológico.
Observaram que a expressão dos genes do relógio biológico aumentava quando os ratinhos eram mantidos acordados e diminuía quando o sono lhes era permitido, provando que estes genes desempenham um papel importante na regulação da necessidade de dormir.
A expressão dos genes denominados Period-1 e Period-2, que já se sabia serem responsáveis pelos nossos ritmos circadianos, aumentou a um ritmo maior nos ratos com pior qualidade de sono, sugerindo que os detalhes dessa expressão podem esconder diferenças individuais na duração e na qualidade do sono dos animais.
As trocas efectuadas na expressão dos genes também mostraram ocorrer em muitas regiões cerebrais diferentes, apoiando a ideia de que o sono é uma função global do cérebro.
A grande vantagem já anteriormente atribuída ao ciclo circadiano é permitir aos animais e plantas prever e preparar-se para alterações periódicas no ambiente.
Os investigadores salientam que o aumento da expressão genética pode representar, a nível molecular, uma preparação do animal para a actividade.
Variações nos genes que controlam o nosso relógio biológico podem esconder tratos rítmicos que influenciam, por exemplo, a hora a que preferimos acordar, mas o papel directo destes genes na regulação do sono, como ficou demonstrado neste estudo, pode também influenciar a duração do sono, a vontade de dormir e o desempenho de um homem ao longo do dia, após ter dormido mais ou menos horas.
Este estudo lança também uma luz na biologia das perturbações dos estados de humor, como a doença bipolar ou o Distúrbio Afectivo Sazonal (Seasonal Affective Disorder-SAD, em inglês), que parecem estar ligadas tanto ao sono como aos ritmos circadianos.
Em 2004, os cientistas Joseph S. Takahashi, do Instituto Médico Howard Hughes da Universidade Northwestern, e David K. Welsh e Steve A. Kay, do Instituto de Investigação Scripps, ambos nos EUA, publicaram um estudo na revista Current Biology segundo o qual os genes que regulam o relógio que governa os ritmos circadianos do corpo também controlam ciclos similares nos órgãos do corpo, marcando o tempo nos respectivos relógios genéticos internos.

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