Kosovo:
Batalhão português na expectativa de um eventual «estado de alerta»
O contingente português no Kosovo mantém o dispositivo operacional de rotina, na expectativa de a todo o momento ser colocado em alerta e mobilizado para responder a qualquer situação de crise no Kosovo, disse à o seu comandante.
Como «reserva táctica» do comandante da KFOR (Força da NATO no Kosovo), o batalhão português constitui uma espécie de força de intervenção, mobilizável em permanência para qualquer ponto do território do Kosovo.
«Uma situação alarmante poderá levar o comandante da KFOR a acelerar o prazo de prontidão» (de 12 a 24 horas em situação de rotina), disse diz o tenente-coronel João Magalhães, comandante da força.
Mas «para já, a KFOR não emitiu qualquer ordem especial, e a situação é ainda de expectativa», face à declaração unilateral de independência anunciada para domingo.
A KFOR preparou planos de contingência para o momento crítico da proclamação da independência e reforçou o seu dispositivo de segurança nos pontos mais sensíveis do Kosovo.
As análises dos responsáveis pela segurança no território - KFOR, polícia das Nações Unidas (CivPol) polícia local (KPS) - convergem porém na ideia de que é pouco provável a ocorrência de incidentes ou de violência generalizada e organizada.
«Há uma tensão subjacente, ambas as etnias (sérvios e albaneses) estão preocupadas, mas não existem quaisquer indícios de que venham a ocorrer distúrbios públicos» , resumiu o general Raul Cunha, oficial de ligação e assessor militar da UNMIK (Missão da ONU no Kosovo).
O primeiro-ministro kosovar, Hasim Thaçi, tem multiplicado gestos apaziguadores em direcção à minoria sérvia e apelos à contenção nos festejos da independência.
«Cremos que, a haver eventualmente uma ordem para acelerar a prontidão do Batalhão, a questão estará na incerteza sobre o que poderá acontecer, e não em quaisquer sinais directos de ameaça à estabilidade ou segurança do território» , considerou o tenente-coronel João Magalhães.
Sectores políticos mais radicais à espera de uma oportunidade, grupos para-militares ou 'gangs' criminosos poderão tirar proveito de um ambiente mais instável.
Mas o grande factor de risco será ainda a desconfiança de cada comunidade quanto às intenções da outra.
«Não há qualquer indicador concreto de ameaças das duas etnias» , disse o comandante do 1.º Batalhão de Infantaria.
«Mas há um longo historial de hostilidade e de violência e há sempre receios quanto às reacções da outra etnia, sobretudo nas áreas em que um grupo está em minoria» .
A zona mais crítica será Mitrovica, uma cidade dividida entre um Norte sérvio e um Sul albanês, e palco dos mais graves incidentes no Kosovo desde que o território foi entregue ao controlo da NATO e à administração da ONU, em 1999.
O rio Ibar, que atravessa a cidade, transformou-se numa espécie de fronteira. A área a Norte de Mitrovica é a zona de maior concentração do que resta da população sérvia no Kosovo.
A consumar-se a independência, os sérvios de Mitrovica dizem-se dispostos a separar-se do resto do Kosovo e permanecer na Sérvia.
O risco de confrontos é aqui particularmente elevado. A KFOR reforçou com um batalhão das "reservas operacionais além do horizonte" o seu dispositivo na área, e a CivPol e o KPS têm unidades de controlo de tumultos de prevenção.
Receia-se em particular a hipótese de os albaneses da área fazerem convergir as comemorações da independência para a ponte Austerlitz, ponto crítico e espécie de zona tampão entre as partes sérvia e albanesa da cidade.
«Qualquer tentativa de a atravessar resultará certamente em confronto» , disse o general Raul Cunha.
Ainda assim, os analistas consideram pouco prováveis reacções violentas do lado sérvio.
A haver confrontos em Mitrovica os albaneses poderiam retaliar, atacando as minorias sérvias que habitam em enclaves a Sul do rio Ibar. Os sérvios optarão assim provavelmente por ignorar a declaração unilateral de independência, tal como têm vindo a ignorar as estruturas provisórias de auto governo do Kosovo.
«Será no interesse dos sérvios ignorar a declaração de independência e limitar-se a apontar o Kosovo como sendo um estado ilegal», acrescentou o oficial português.
O assessor militar da UNMIK crê mesmo que Mitrovica poderá ser um teste crucial para todo o Kosovo.
«Se na área de Mitrovica os problemas forem contidos por dois ou três dias, então as hipóteses de violência no Kosovo serão muito reduzidas» .
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