O duelo final entre westerns...
O duelo final dos Oscars vai ser travado entre westerns numa edição em que os filmes mais nomeados apresentam temáticas sombrias fazendo sobressair o pior da natureza humana. As categorias de interpretação mostram o mais relevante da produção do ano passado e a nomeação de determinados actores compensa uma mão-cheia de filmes que foram injustiçados pela Academia.
O duelo final dos Oscars vai ser travado entre westerns numa edição em que os filmes mais nomeados apresentam temáticas sombrias fazendo sobressair o pior da natureza humana. As categorias de interpretação mostram o mais relevante da produção do ano passado e a nomeação de determinados actores compensa uma mão-cheia de filmes que foram injustiçados pela Academia.
Sabia que a produção francófona pode ganhar oito Oscars? Isto num ano em que os franceses ainda têm motivos para saborear cada prémio atribuído a "Ratatui" nas cinco categorias em que a animação da Pixar está nomeada... A greve dos argumentistas não impediu a realização da 80ª edição de entrega dos Oscars de Hollywood.
Eis oito argumentos que tornam esta cerimónia de 2008, que se realiza na próxima madrugada no Kodak Theatre, emLos Angeles, num acontecimento especial. Western território do melhor filme"Este país não é para velhos" e "Haverá sangue" são os dois filmes mais nomeados desta edição dos Oscars - ambos concorrem em oito categorias.
As coincidências não se esgotam nesse aspecto já que ambos foram rodados na paisagem árida de Marfa, no Texas, e reavivam a mitologia do velho "western". "Haverá sangue", de Paul Thomas Anderson, é um épico biográfico sobre um prospector de petróleo que funda uma pequena localidade, Little Boston, na Califórnia.
"Este pais não é para velhos", de Joel e Ethan Coen é uma história contemporânea no velho oeste com códigos morais totalmente degradados - é no presente que se vive fora da lei.
O "western" é a paisagem e o património que se impõe embora os filmes dos irmãos Coen e de PT Anderson não sejam "westerns" puros como "O comboio das 3 e 10" ou "O assassínio de Jesse James pelo cobarde Robert Ford", ambos parcamente nomeados. A última coincidência é que partilham o favoritismo nas categorias decisivas de realização e melhor filme.
Temáticas sombrias
Não é propriamente um ano alegre em matéria de temática narrativa. É certo que os filmes sobre a guerra - "Peões em jogo", "Redacted", "No vale de Elah", "Jogos de poder" - foram ignorados e Hollywood parece dar tréguas à Casa Branca esperando pelo desfecho da corrida eleitoral agendado para Novembro.
Apesar disso quatro dos cinco candidatos na categoria principal de melhor filme do ano - os quatro filmes mais nomeados - tratam de temas sombrios e retratam personagens negativas.
"Expiação" aborda um amor destroçado e a impossibilidade de um par atormentado concretizar uma relação condenada. "Michael Clayton" é um melodrama judicial sobre a corrupção, a falsificação da verdade, a amoralidade da decisão e o compadrio entre poderes.
"Haverá Sangue" exalta valores como a avareza e a ganância, colocando em confronto o pior da religião e do capital enquanto duas forças motrizes do desenvolvimento. "Este país não é para velhos" é um "western" onde um xerife veterano tem imensa dificuldade em lidar com a brutalidade desumana de um implacável assassino em série.
Só mesmo "Juno", a comédia optimista de Jason Reitman sobre uma gravidez na adolescência, destoa neste quadro tenso. A temática tornou-o no filme mais popular dos Oscars.
O melhor da produção subvalorizada
É nas categorias de interpretação que surgem os exemplos de vários filmes relevantes do ano anterior que representam a diversidade da produção e que a Academia não terá valorizado devidamente através de outras nomeações.
A proeza artística de Johnny Depp ao cantar em "Sweeney Todd" não ficou esquecida, mas foram ignorados outros trunfos criativos do musical pouco ortodoxo de Tim Burton.
"O lado selvagem", drama biográfico realizado por Sean Penn, e "Promessas perigosas", o thriller de David Cronenberg sobre as máfias russas, beneficiaram das graças da crítica mas só obtiveram alguma projecção através da nomeação dos seus actores, Hal Holbroock e Viggo Mortensen, respectivamente.
Do mesmo modo o facto de Tommy Lee Jones estar entre os candidatos a melhor actor do ano pelo papel do veterano de guerra em "No Vale de Elah", acaba por ser um reconhecimento do seu desempenho já que o filme realizado por Paul Haggis foi totalmente ignorado pela Academia.
A questão do Iraque e do esforço de guerra norte-americano não mobilizou simpatias e mesmo o divertido "Jogos de poder " só conseguiu visibilidade no alinhamento dos nomeados através da presença de Philip Seymour Hoffman entre os candidatos ao Oscar de actor secundário.
O melhor da produção do ano anterior também está espelhado na proeza que Cate Blanchett repetiu ao ser nomeada duplamente nas categorias de intérprete principal e secundária os seus dois papéis são artisticamente diversos, bem como a natureza de "Elizabeth", a sequela sobre a rainha virgem, e "I'm not there", o "biopic" focado em Bob Dylan.
O primeiro é uma produção de estúdio, o segundo uma obra sem ambições comerciais. Finalmente, é nas interpretações que se nota a representação visível de outros territórios de produção - Javier Bardem, o rosto do cinema latino, e Marion Cotillard, a intrusa francesa na gala de Hollywood.
Perfume francês
Os franceses marcam uma presença forte .
A cinematografia francófona surge regularmente representada na categoria de melhor filme estrangeiro - "Persépolis", a animação da franco-iraniana Marjanne Satrapi, foi proposto e rejeitado nessa categoria, situação que acabou por ser amplamente compensada através de uma posição bem mais interessante no reservado grupo de três filmes candidatos a melhor longa-metragem animada do ano, onde concorre com "Ratatui" e "Dia de surf".
A produção francesa também marca pontos através do biopic "La vie en rose" (nomeado em três categorias, incluindo melhor actriz - Marion Cotillard).
E os franceses deixam um certo perfume em "Ratatui" e em "O escafandro e a borboleta" do nova-iorquino Julian Schnabel. Esta co-produção EUA-França é candidata a quatro Oscares.
Domínio Disney
Amor, harmonia, felicidade são palavras chave nos temas nomeados para melhor canção do ano. Todos esses termos surgem nas três canções de "Uma história de encantar" que ocupam uma posição dominante no conjunto das cinco nomeadas. "Happy working song", "That's how you know" e "So close", escritas por Stephen Schwartz e compostas por Alan Menken, garantem um alinhamento musical da cerimónia dos Oscares na tradição do musical clássico da Disney.
Este ano,a Disney ocupa três das cinco posições através de temas clássicos de uma comédia romântica que pretende estabelecer uma distância, com ironia calculada, em relação à herança das animações musicais do estúdio.
Argumentos finais
A chave do palmarés é desvendada no momento em que são entregues os prémios de argumento original e adaptado. "Haverá Sangue" e "Este país não é para velhos", os dois filmes mais nomeados, surgem emparelhados em categorias decisivas como filme, realização e argumento adaptado, sendo que a autoria das histórias é dos próprios realizadores. O duelo entre estes dois "westerns" vai começar a ser clarificado neste momento da cerimónia.
A categoria de argumento original parece estar mais desanuviada e o estreante Diablo Cody pode ser recompensado pela escrita da saga singular e humana de "Juno".
(Tiago Alves in JN)
(Tiago Alves in JN)
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