quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

...até que enfim! Combóios regressam ao Rossio...


Túnel do Rossio
Comboios regressam 3 anos após obra polémica com derrapagem financeira de 9,5 milhões

Os comboios regressam sábado ao Túnel do Rossio, fechado há três anos por questões de segurança para a maior intervenção de sempre, que envolveu uma polémica rescisão com o empreiteiro e sofreu uma derrapagem global de 9,5 milhões de euros.


Foi uma ameaça de derrocada que ditou a empreitada, que deveria ter terminado em Julho de 2006 e acabou por estender-se até 2008.Pelo meio ficou uma polémica rescisão com o empreiteiro inicial - o consórcio Teixeira Duarte/Epos -, que depois de ter analisado o projecto propôs executar a obra em 13,5 meses por 31,7 milhões de euros.
Contudo, acabou por perceber que afinal precisava de mais cinco anos, pedindo à Refer a prorrogação do prazo. O pedido foi rejeitado.
Contactada pela Lusa para explicar esta disparidade de prazos, a empresa não respondeu.
Depois de anunciada em Outubro de 2006 a rescisão do contrato com a Teixeira Duarte, a empresa veio dizer que iria recorrer da decisão, acusando a Refer de ter faltado às suas responsabilidades, provocando, consequentemente, atrasos nos trabalhos.
A obra acabou por ser concluída pelo consórcio Mota-Engil/Zagope/Ferrovias, que entrou no túnel a 22 de Janeiro de 2007 e acabou os trabalhos num prazo recorde.
No relatório divulgado a semana passada, o Tribunal de Contas (TC) considera que a rescisão de contrato com o empreiteiro inicial acabou por proteger os interesses financeiros do Estado, na medida em que evitou um gasto adicional de 11,2 milhões de euros e um prolongamento de cinco anos no prazo da conclusão da obra.
Apesar de contactada pela Lusa, a Teixeira Duarte deixou também por explicar porque é que considera não ser responsável pela derrapagem nem em que fase estão os pedidos de indemnização que apresentou e que ultrapassam os 140 milhões de euros.
O encerramento do túnel, a 22 de Outubro de 2004, alterou a vida aos cerca de 70 mil passageiros do troço Campolide-Rossio, que se viram obrigados a optar pela Carris e Metropolitano, criando novos hábitos para viajar até à Baixa.
Aliás, estas duas operadoras, assim como a Fertagus, acabaram por ter que reforçar a oferta para fazer face ao aumento de passageiros.Resta saber se com a reestruturação de horários anunciada a CP consegue reconquistar os clientes perdidos (na ordem dos sete por cento).
Quem também não ficou satisfeito com o encerramento do túnel foram os comerciantes do Rossio, que viram fugir potenciais clientes que chegavam àquela estação, agora totalmente remodelada e que alberga uma área de exposições/museu (piso superior).
Os impactos negativos das obras no comércio junto à estação do Rossio, segundo o Tribunal de Contas, rondam os cinco milhões de euros.
As obras no túnel do Rossio obrigaram também a demolir dois edifícios (números 14 e 16) na Calçada da Glória, que estavam em ruínas, e o espaço foi aproveitado para a construção de um estaleiro vedado, com acesso directo ao túnel através de um poço vertical.
Afectados com as obras ficaram também os utilizadores do elevador da Glória, o segundo mais antigo de Lisboa, que era para fechar por seis meses mas acabou por encerrar quase ano e meio: parou a 17 de Abril de 2006 e só voltou aos carris a 18 de Setembro de 2007.
Segundo o Tribunal de Contas, as obras no Túnel do Rossio tiveram um impacto social estimado em 17,9 milhões de euros, dos quais 5,3 milhões referentes à dívida pelas alternativas de transporte criadas na sequência do encerramento do túnel, 826,6 mil euros pelo encerramento do elevador da Glória e 11,4 pela perda de receita por parte da CP.
O TC contabilizou ainda 180 mil euros pelo desalojamento e realojamento de particulares efectuado pela FERBRITAS e 185 mil euros pela desocupação temporária do edifício da FERNAVE.A construção do túnel e estação do Rossio é considerada a maior obra de engenharia do século XIX em Portugal.
Arrancou em 1887 e ficou concluída em 1890, custando então 730 mil réis.Dois grupos de operários iniciaram os trabalhos no dia 21 de Maio de 1887: um começou a escavar do lado de Campolide, outro na zona do Rossio.
Encontraram-se na noite de 23 para 24 de Maio do ano seguinte.Inaugurado oficialmente pela Companhia Real dos Caminhos-de-Ferro Portugueses no dia 11 de Junho de 1890, o Túnel foi atravessado a primeira vez pelo comboio um ano antes, a 08 de Abril de 1889.
A viagem inaugural demorou cerca de 27 minutos. As máquinas, alimentadas a hulha, circulavam então a seis quilómetros/hora.Quando reabrir ao público, o Túnel do Rossio terá uma plataforma contínua em betão, que funcionará como uma espécie de estrada. Com os carris ao nível do solo, a via permitirá a circulação de veículos automóveis, nomeadamente de ambulâncias e carros dos bombeiros.
Terá ainda modernos equipamentos de segurança ao nível da prevenção e combate a incêndios e um sistema de monitorização automático com transmissão de dados à distância que permite o controlo permanente e medição em tempo real das condições estruturais do túnel.
A intervenção abrangeu igualmente a instalação de sistemas de ventilação e desenfumagem, câmaras de vídeo vigilância e uma saída de emergência vertical (com 26 metros de altura) a meio do túnel.
Quase 120 anos após a inauguração, o Túnel do Rossio sofreu a sua reabilitação mais profunda. Contudo, a ameaça de colapso não foi inédita.
Em 1926 o tecto abateu por causa da humidade.

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