terça-feira, 23 de setembro de 2008

Afeganistão: Jornalista afegão 11 meses detido em base americana denuncia torturas...

Cabul - Um jornalista afegão que esteve 11 meses detido numa base militar norte-americana em Bagram denunciou na segunda-feira que os seus captores o pontapearam, obrigaram-no a ficar descalço na neve e impediram-no de dormir durante vários dias.


Jawed Ahmad, que quando foi detido estava a trabalhar para a CTV, uma televisão canadiana, foi entregue no domingo às autoridades afegãs, informou o capitão Christian Patterson, porta-voz da coligação militar liderada pelos EUA.


Os EUA consideraram Ahmad "combatente inimigo" no início deste ano, acusando-o de manter contactos com líderes talibãs, estando na posse dos seus números de telefone e de imagens de vídeo deles, segundo uma queixa apresentada pelos advogados do jornalista num tribunal de Washington.


Ahmad revelou na segunda-feira que, enquanto esteve preso, os interrogadores o acusaram de ser um combatente talibã que fornecia armas aos rebeldes e de ser agente do Paquistão.


"Tudo de que me acusaram não era verdade", disse Ahmad à Associated Press, num hotel em Cabul. "Se fosse verdade, não me teriam libertado."


Patterson disse que Ahmad foi libertado por já não ser considerado uma ameaça.
O jornalista, de 21 anos, foi detido a 26 de Outubro de 2007 numa base da NATO perto da cidade de Kandahar, no Sul do Afeganistão.


Ahmad contou que um oficial das relações públicas militares norte-americano o convidara e vir àquela base, onde ficou detido no aquartelamento dos EUA.


Ahmad acusou ter sido pontapeado, terem-lhe batido com a cabeça numa mesa e ficado nove dias consecutivos sem dormir, durante a sua detenção em Kandahar.


Segundo disse, os militares norte-americanos ameaçaram-no de que o mandariam para Guantánamo durante anos. Raparam-lhe o cabelo, vestiram-no com o fato prisional cor-de-laranja e transportaram-no de avião para a base principal dos EUA em Bagram.


Ahmad disse que os soldados o obrigaram a ficar seis horas descalço na neve, tendo desmaiado duas vezes e forçado a pôr-se de novo de pé.


A capitã Kymberley Juradl, porta-voz militar dos EUA, disse que Ahmad teve acesso ao tratamento médico de rotina quando esteve em Bagram, onde se encontrou com o Comité Internacional da Cruz Vermelha e que nunca apresentou queixas de ter sido maltratado.
"Levamos essas alegações a sério e o nosso pessoal está treinado para respeitar toda a gente e não maltratamos as pessoas dessa maneira", disse.


Ahmad trabalhou como tradutor para as forças especiais dos EUA durante dois anos e meio, a partir de 2002 e deixou esse trabalho após ter sido ferido pela segunda vez num ataque talibã.
O jornalista afegão admitiu sem dificuldade ter tido contactos com combatentes talibãs.


"Como jornalistas, temos o direito de falar com qualquer organização. Somos os olhos do mundo", disse. "Sim, falei com os talibãs como qualquer outro repórter. Viajei com eles. Fiz reportagens sobre eles. Não são meus tios nem irmãos, são talibãs. Falei com eles tal como falei com a NATO. Se só ouvirmos uma parte, somos inúteis."

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