terça-feira, 20 de maio de 2008

O nosso Manoel de "ouro"!


Manoel de “ouro”!

Ao longo destes meus cem anos de vida, o cinema cresceu comigo. Agora, posso dizer que o cinema me faz crescer". Foi assim que o realizador Manoel de Oliveira - demonstrando uma vez mais toda a sua juventude de espírito e o seu humor muito especial -, acabou o seu pequeno discurso de agradecimento, quando ontem, a meio da tarde, o Festival de Cannes (França) celebrou o seu centenário, que se cumpre este ano.
Ao receber a Palma de Ouro pelo conjunto da sua carreira, prémio que nunca recebera das várias vezes que esteve presente na Croisette, Oliveira começou por deixar escapar um "finalmente", mas acabou por dizer que até preferia receber desta forma a Palma porque não gostava da ideia de competição entre filmes e de ganhar um prémio contra outros dos seus colegas.
A sessão teve as honras da presença de vários realizadores que estão neste momento em Cannes, com destaque para Clint Eastwood, além de todo o júri oficial, incluindo o seu presidente, o actor e também realizador Sean Penn.
José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, que se encontra em Cannes para assinalar o dia do cinema europeu, o embaixador de Portugal em Paris, em representação do ministro da Cultura e o director da Cinemateca Portuguesa, a quem Gilles Jacob também agradeceu, estavam entre as mais importantes individualidades oficiais presentes na sessão.
Gilles Jacob, que só aparece em ocasiões muito especiais, fez o discurso de apresentação, tendo ao seu lado Thierry Fremaux, o novo director de programação da secção oficial de Cannes. Já depois da exibição de um pequeno filme de nove minutos assinado pelo próprio Jacob e intitulado "Um Dia na Vida de Manoel de Oliveira", Jacob chamou ao palco Oliveira e o seu velho amigo Michel Piccoli, Gilles Jacob chamou ao cineasta português "o último dos pioneiros", enquanto Oliveira não deixou de afirmar a importância dos festivais de cinema.
Citando uma das últimas entrevistas de Fellini, onde este se queixava das dificuldades de distribuição dos seus filmes, dizendo que os realizadores faziam "aviões sem terem aeroportos para os pousarem", Oliveira pediu licença para pegar na expressão do realizador italiano, dizendo que "os festivais de cinema são os aeroportos para os filmes, e o Festival de Cannes é o mais belo aeroporto do mundo."
A sessão, que foi interrompida várias vezes pelos aplausos de pé ao mais antigo cineasta vivo e em actividade, terminou com a exibição do seu primeiro filme, rodado ainda no tempo do mudo, o documentário "Douro, Faina Fluvial". Como foi diferente a recepção do filme, ontem em Cannes, relativamente à primeira exibição da película, no Congresso da Crítica, em Lisboa, quase há 80 anos. A edição deste ano do Festival de Cannes tem sido de uma enorme generosidade para a cultura portuguesa.
Depois de José Saramago ter estado directamente associado à abertura oficial do festival, com a exibição de "Blindness", de Fernando Meirelles, e de ter sido anunciada a produção de uma longa metragem de grande fôlego sobre Amália Rodrigues (facto que nem a "Variety", na sua edição diária do festival, deixou escapar), Oliveira recebeu uma das maiores consagrações da sua vida.Antes, Durão Barroso, em declarações ao JN, e depois de dizer "acreditar no cinema europeu", referiu-se deste modo ao cinema de Manoel de Oliveira "Venho aqui mostrar o apoio da Comissão Europeia ao cinema europeu, mas também para prestar homenagem ao nosso grande compatriota.
É notável a sua vitalidade, é alguém muito respeitado. O seu cinema é, por vezes, muito exigente, elegante, mas é alguém que prestigia muito o nome de Portugal".

Filmes que estão na corrida para a Palma de Ouro
Quase todos os filmes tem tido os seus defensores. Além do argentino "Leonera" e do turco "Três Macacos", entraram na "corrida" pela Palma de Ouro "24 City", de Jia Zhangke, "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, "Gomorra", de Matteo Garrone, e "O Silêncio de Lorna", dos irmão Jean-Pierre e Luc Dardenne. Caso estes vençam, seria a primeira vez que alguém conquistaria o prémio mais desejado de Cannes por três vezes.
Mas, ainda faltam os filmes de Clint Eastwood, Steven Soderbergh, Lucrecia Martel, Philippe Garrel, Atom Egoyan ou Wim Wenders.

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