segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Faixa de Gaza tornou-se o inferno dos palestinianos...











Faixa de Gaza tornou-se o inferno dos palestinianos...

Bombardeios incessantes, hospitais cheios de feridos, crianças em estado de choque e noites geladas tornaram-se rotina para os moradores de Gaza, que ainda temem pelo pior.

Após uma semana de ataques aéreos, Israel lançou, na noite de sábado, uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza. A Cidade de Gaza, onde moram mais de 500.000 pessoas, está cercada pelos tanques. Há falta água, comida e electricidade.

As agências da ONU não podem distribuir alimentos a todos os necessitados, devido aos bombardeios e aos ataques.

O território está dividido em duas partes. As tropas israelitas tomaram posição na antiga colónia judia de Netzarim e impedem a circulação entre o norte e o sul da Faixa de Gaza, controlada pelos islâmicos radicais do Hamas desde Junho de 2007.

Nas casas palestinas, gritos de crianças assustadas sobrepõem-se ao barulho das explosões nas ruas vazias da cidade.

"Muitas crianças pararam de comer, e até de falar. Não largam os seus pais o dia todo. Estão apáticas", explicou Sajy al-Mughanni, um funcionário do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). "Sem luz, as crianças vivem no medo do escuro", acrescentou.

Como muitos moradores da Faixa de Gaza, um território densamente povoado onde vivem 1,5 milhão de pessoas, Sajy mora agora num apartamento, no oeste da Cidade de Gaza, onde todas as janelas foram destruídas pelas incessantes explosões. "As noites são muito frias e temos que usar várias roupas ao mesmo tempo", relatou.

Os hospitais de Gaza estão numa situação preocupante, cheios de feridos. Faltam camas, medicamentos e pessoal. Desde o início da ofensiva, que está no décimo dia, 537 pessoas foram mortas, entre elas mais de cem civis, e 2.500 ficaram feridas.

Devido à falta de médicos e equipamentos, as amputações de feridos multiplicaram-se. Muitos faleceram por não terem sido internados a tempo.

Perante esta situação, o temor de Sajy é que a sua mulher, grávida de nove meses, não possa dar à luz em condições correctas. "Isso preocupa-me muito. É quase impossível conseguir uma ambulância, já que todas elas estão ocupadas com os feridos", declarou.

A maioria dos vizinhos de Sajy saiu do prédio para se refugiar em bairros que consideram mais seguros. "Tivemos que ficar, não sei o que fazer. Peço a Deus que a minha mulher não dê à luz nestas condições", acrescentou.

As tragédias que envolvem civis palestinos multiplicaram-se nos últimos dias, apesar da promessa de Israel de atacar somente edifícios e militantes do Hamas.

"O pior é que não sabemos quando os soldados israelelitas vão entrar na cidade. Quando vierem, é possível que deixem ainda mais vítimas civis", finalizou Sajy al-Mughanni.

Os acontecimentos desde o início da ofensiva lançada por Israel na Faixa de Gaza, que fez mais de 400 mortos palestinianos, entre eles pelo menos 25% civis, segundo a ONU, e cerca de 2000 feridos.


SÁBADO 27 DEZEMBRO

  • - Israel lança ofensiva aérea contra o Hamas na Faixa de Gaza para pôr fim aos tiros de foguetes do Hamas (operação "chumbo grosso", de amplitude sem precedente nos Territórios palestinos desde 1967).
  • - O Egipto abre o terminal de Rafah, na fronteira com a Faixa de Gaza, para acolher os palestinos feridos.
  • - O chefe do Hamas no exílio, Khaled Mechaal, apela a uma terceira intifada, a revolta.
  • - Pelo menos 230 palestinos são mortos, na maioria policias do Hamas (fontes hospitalares palestinas).
  • - Apelos internacionais ao fim dos bombardeios e aos lançamentos de foguetes.

DOMINGO 28

  • - Sinal verde de Israel para a mobilização de 6500 reservistas. O exército posiciona blindados na fronteira com Gaza.
  • - Israel bombardeia 40 túneis usados para o contrabando de armas na fronteira entre Egipto e Gaza.
  • - O Egito volta a fechar Rafah depois que palestinianos tentaram forçar a passagem. Um guarda de fronteira egípcio foi morto por tiros provenientes de Gaza. O terminal seguirá aberto ou a fechado, alternativamente.
  • - Manifestações na Europa, nos países árabes e na Cisjordânia, contra os bombardeamentos.
  • - "A agressão israelita" não permite o prosseguimento das negociações com Israel (Síria).

SEGUNDA-FEIRA 29

  • - Israel, comprometido numa "guerra sem cartel" contra o Hamas, decreta o sector de fronteira do território palestino "zona militar fechada".
  • - Um quarto israelita é morto por tiros de foguete disparados por palestinianos.

TERÇA-FEIRA 30

  • - As forças terrestres israelitas dispõem-se a agir em Gaza (exército).
  • - As operações em curso representam "a primeira fase entre várias outras já aprovadas pelo gabinete de segurança" (Israel). Sinal verde para a mobilização de um novo contingente de 2500 reservistas.

QUARTA-FEIRA 31

  • - Prosseguimento dos bombardeamentos israelitas. Alguns tiros de foguetes palestinianos atingem até 40 km.
  • - 106 camiões de ajuda humanitária internacional transitam de Israel em direcção a Gaza (fonte: Israel).
  • - Israel rejeita as propostas de trégua da UE e do Quarteto para o Médio Oriente (Estados Unidos, UE, Rússia, ONU) e afirma que vai prosseguir as operações.
  • - A Liga árabe faz um apelo à reconciliação dos palestinianos.

QUINTA-FEIRA 1 JANEIRO

  • - O exército israelita anuncia ter enquadrado 30 alvos do Hamas, entre eles "ministérios", um prédio do Parlamento, túneis de contrabando e oficinas "de fabricação de foguetes".
  • - Um dos principais líderes do Hamas, Nizar Rayan, é morto num bombardeamento israelita.
  • - Mais de 40 foguetes são atirados de Gaza contra o sul de Israel atingindo principalmente Ashdod e Beersheva.
  • - O primeiro-ministro israelita Ehud Olmert afirma não querer uma "guerra longa".
  • - O Hamas desmente ter aceite "sob condições" as propostas de trégua da UE.
  • - A chefe da diplomacia israelita Tzipi Livni vai a Paris para se encontrar com o presidente francês Nicolas Sarkozy que, por sua vez, deve realizar uma visita pelo Médio Oriente.

SEXTA-FEIRA, 2 JANEIRO

  • - "Dia de ira": milhares de palestinianos manifestam-se na Cisjordânia e em Jerusalém, onde os confrontos opõem manifestantes às forças da ordem israelitas.

SÁBADO, 3 JANEIRO

  • - Israel lança uma ofensiva terrestre contra o Hamas na Faixa de Gaza para pôr fim aos lançamentos de foguetes. A ofensiva israelita custou, até aqui, a vida de pelo menos 460 palestinianos, entre eles 75 crianças e 21 mulheres, e feriu 2350, segundo fontes médicas palestinianas.
  • - O Hamas ameaça sequestrar soldados israelitas em caso de ofensiva terrestre de Israel.
  • - À noite, o exército israelita anuncia que um "número importante de forças" israelitas participam da "segunda fase" da operação, que começou com a entrada de tropas no interior do território palestino. A ofensiva terrestre está prevista para durar "vários dias". O Hamas ameaça transformar o território palestino em "cemitério" para o exército israelita.

DOMINGO, 4 JANEIRO

  • - Tropas israelitas, apoiadas pela artilharia e bombardeamentos, avançam em profundidade em vários sectores de Gaza. Os tanques tomam controlo de vários eixos estratégicos e entram em conflito directo com combatentes do Hamas.
  • - 63 palestinianos são mortos, elevando a 512 o número de mortos neste território desde 27 de Dezembro.
  • - Um primeiro balanço oficial israelita anuncia um soldado morto e 30 feridos.
  • - Manifestações contra a ofensiva israelita e apelos ao cessar-fogo multiplicam-se no mundo.

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