Desastre ambiental na Lagoa dos Salgados autorizado pela CCDRA…
Poderemos chamar de “crime ambiental”, melhor dizendo!
No fim da semana passada a Lagoa dos Salgados, uma das 93 Áreas
Importantes para as Aves (IBA – Important Bird Area) identificadas em
Portugal e uma das únicas zonas húmidas ainda existentes no Barlavento
Algarvio, foi aberta ao mar, causando a perda de dezenas de ninhos de aves aquáticas protegidas. Este desastre ambiental afecta assim uma área para a qual a SPEA tem lutado por um estatuto de protecção condigno com o grande valor ecológico e pelas centenas de petições enviadas por cidadãos nacionais e estrangeiros.
Há poucos dias um tractor abriu um canal no cordão dunar que separa esta lagoa do Oceano Atlântico, permitindo o escoamento da água. Esta acção, que terá sido feita para impedir um alegado alagamento dos greens do Golfe dos Salgados, na Herdade do mesmo nome, e devidamente autorizada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA), deixou a seco uma das mais importantes zonas húmidas do litoral algarvio e deitou a perder dezenas de ninhos de espécies protegidas e raras que na altura nidificavam nas ilhas e sapais da lagoa, entre os quais o único casal nidificante de Pêrra em Portugal (uma das espécies de aves mais ameaçadas na Europa), bem como cerca de 40 casais de Perna-longa, 45 casais de Alfaiate, 3 casais de Caimão, 2 casais de Zarrocomum, 3 casais de Pato-colhereiro (os Salgados são um dos raros locais de nidificação destas duas espécies em Portugal), 5 casais de Frisada, 7 casais de Borrelho-de coleira-interrompida e 4 casais de Andorinha-do-mar-anã.
Há anos que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA, representante da BirdLife em Portugal), juntamente com a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB, BirdLife no Reino Unido) e a Almargem, tem desenvolvido continuados esforços com o objectivo de assegurar a conservação dos valiosos habitats naturais do local, que dão abrigo a importantes populações de aves. Para tal, a SPEA desenvolveu estudos aprofundados sobre os valores da Lagoa dos Salgados e apresentou soluções de gestão que permitem compatibilizar a conservação da biodiversidade com os usos correntes e futuros deste local. A Lagoa dos Salgados é visitada por milhares de observadores de aves em cada ano, sobretudo estrangeiros – este será mesmo o local mais famoso do país para a actividade de observação de aves e é uma mais valia turística para o Algarve, principalmente para
os diversos empreendimentos turísticos que o circundam. Esta acção, ignorando outras soluções possíveis, causou um desastre ambiental com sérias consequências a nível da biodiversidade e da imagem do país.
De forma a impedir qualquer alagamento dos terrenos circundantes na Primavera e potenciar a conservação da avifauna e outros valores naturais do local a SPEA, a Almargem e outros grupos de conservação da natureza acordaram com a CCDRA uma regulação das operações de abertura da lagoa ao mar, que permitia a abertura regular durante o período de Inverno (até 1 de Março), quando as chuvas são mais frequentes e as aves mais móveis, mas impedia qualquer abertura durante a Primavera, quando as aves utilizam as ilhas e sapais da Lagoa para construir os seus ninhos.
A SPEA continuará a trabalhar para que esta área seja designada num futuro breve como Zona de Protecção Especial, ao abrigo da Directiva Aves, e renova o apelo a todas as autoridades envolvidas para que trabalhem no sentido de implementar as soluções de gestão há muito identificadas, que tentarão compatibilizar os valores de conservação da biodiversidade com interesses económicos e turísticos públicos e privados.
Um comentário:
>Lagoa dos Salgados- álbum de fotos
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