quinta-feira, 17 de abril de 2008

Desastre ambiental na Lagoa dos Salgados autorizado pela CCDRA…


Desastre ambiental na Lagoa dos Salgados autorizado pela CCDRA…

Poderemos chamar de “crime ambiental”, melhor dizendo!

No fim da semana passada a Lagoa dos Salgados, uma das 93 Áreas

Importantes para as Aves (IBA – Important Bird Area) identificadas em

Portugal e uma das únicas zonas húmidas ainda existentes no Barlavento

Algarvio, foi aberta ao mar, causando a perda de dezenas de ninhos de aves aquáticas protegidas. Este desastre ambiental afecta assim uma área para a qual a SPEA tem lutado por um estatuto de protecção condigno com o grande valor ecológico e pelas centenas de petições enviadas por cidadãos nacionais e estrangeiros.

Há poucos dias um tractor abriu um canal no cordão dunar que separa esta lagoa do Oceano Atlântico, permitindo o escoamento da água. Esta acção, que terá sido feita para impedir um alegado alagamento dos greens do Golfe dos Salgados, na Herdade do mesmo nome, e devidamente autorizada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA), deixou a seco uma das mais importantes zonas húmidas do litoral algarvio e deitou a perder dezenas de ninhos de espécies protegidas e raras que na altura nidificavam nas ilhas e sapais da lagoa, entre os quais o único casal nidificante de Pêrra em Portugal (uma das espécies de aves mais ameaçadas na Europa), bem como cerca de 40 casais de Perna-longa, 45 casais de Alfaiate, 3 casais de Caimão, 2 casais de Zarrocomum, 3 casais de Pato-colhereiro (os Salgados são um dos raros locais de nidificação destas duas espécies em Portugal), 5 casais de Frisada, 7 casais de Borrelho-de coleira-interrompida e 4 casais de Andorinha-do-mar-anã.

Há anos que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA, representante da BirdLife em Portugal), juntamente com a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB, BirdLife no Reino Unido) e a Almargem, tem desenvolvido continuados esforços com o objectivo de assegurar a conservação dos valiosos habitats naturais do local, que dão abrigo a importantes populações de aves. Para tal, a SPEA desenvolveu estudos aprofundados sobre os valores da Lagoa dos Salgados e apresentou soluções de gestão que permitem compatibilizar a conservação da biodiversidade com os usos correntes e futuros deste local. A Lagoa dos Salgados é visitada por milhares de observadores de aves em cada ano, sobretudo estrangeiros – este será mesmo o local mais famoso do país para a actividade de observação de aves e é uma mais valia turística para o Algarve, principalmente para

os diversos empreendimentos turísticos que o circundam. Esta acção, ignorando outras soluções possíveis, causou um desastre ambiental com sérias consequências a nível da biodiversidade e da imagem do país.

De forma a impedir qualquer alagamento dos terrenos circundantes na Primavera e potenciar a conservação da avifauna e outros valores naturais do local a SPEA, a Almargem e outros grupos de conservação da natureza acordaram com a CCDRA uma regulação das operações de abertura da lagoa ao mar, que permitia a abertura regular durante o período de Inverno (até 1 de Março), quando as chuvas são mais frequentes e as aves mais móveis, mas impedia qualquer abertura durante a Primavera, quando as aves utilizam as ilhas e sapais da Lagoa para construir os seus ninhos.

A SPEA continuará a trabalhar para que esta área seja designada num futuro breve como Zona de Protecção Especial, ao abrigo da Directiva Aves, e renova o apelo a todas as autoridades envolvidas para que trabalhem no sentido de implementar as soluções de gestão há muito identificadas, que tentarão compatibilizar os valores de conservação da biodiversidade com interesses económicos e turísticos públicos e privados.