segunda-feira, 7 de abril de 2008

Crise está a exterminar aves



Crise está a exterminar aves





A apanha ilegal de aves nos campos para o “petisco” está

a ajudar ao seu extermínio.

Crise económica também não ajuda.

O problema está rapidamente a atingir o estatuto de drama e vai ser objecto de uma campanha da Sociedade Portuguesa para o Estado das Aves (SPEA), em coordenação com a associação ambientalista algarvia Almargem, que deverá começar ainda antes do Verão.

A apanha de pequenas aves para venda nos cafés e casas de pasto, onde normalmente são servidos como “passarinhos fritos”, é uma actividade – tradicionalmente praticada no Inverno, com recurso às formigas de asa que proliferam naquela época, já que a maioria dos pássaros apanhados são insectívoros - que contudo, nos últimos anos, tem vindo a estender-se ao resto do ano devido à crise económica que assola o País.

“Não tenho dúvidas que a crise económica tem sido responsável por este aumento da apanha ao longo do ano e pela profissionalização a que temos assistido”, sustenta João Ministro, da Almargem, preocupado com a apanha durante o período da nidificação, na Primavera.

Por cada pequena ave morta nesta época do ano, há várias ainda mais pequenas que ficam nos ninhos, de bico aberto, à espera da refeição regurgitada que nunca chegará, e acabam por morrer.

Habituado a encontrar ninhos com crias mortas nas suas muitas actividades de Natureza, João Ministro está preocupado com a extensão à classe média da actividade, por via do desemprego de longa duração e das reformas de miséria e garante que cada vez mais são apreendidos grandes quantidades de instrumentos de apanha.

Foi o que aconteceu em Dezembro último, quando – na sua última grande apreensão conhecida – o Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SPENA) da GNR de Faro deteve um homem de 39 anos que tinha na sua posse 70 aves mortas e 74 armadilhas.

Na sua posse, o homem tinha 42 piscos-de-peito-ruivo (erithacus rubela), 14 tordos (turdus philomelos), 9 toutinegras-de-barrete-preto (sylvia atricapilla), 2 Melros (turdus merula), 2 tentilhões-montês ( fringilla montifringilla) e 1 cartaxo-comum (saxicola torquata).

Fonte da GNR disse que a actividade – estritamente proibida ao abrigo da Lei da Caça – não tem aumentado, mas reconheceu que são cada vez maiores as quantidades de instrumentos de apanha apreendidos de uma só vez, o que é consequência da profissionalização da actividade ancestral.

Um vigilante de Natureza do sotavento algarvio, que solicitou o anonimato, corroborou que a apanha ilegal com recurso a métodos cada vez mais sofisticados tem vindo a estender-se ao ano inteiro e deixou de ser uma actividade confinada à época do Outono – quando se dão as migrações a as aves aqui chegam vindas do Norte da Europa -, admitindo que, nas suas actividades de vigilância, continua a encontrar armadilhas e redes em grande número.

“A prova da profissionalização da actividade é que antes nós detectávamos as armadilhas mesmo de dentro do jipe, porque estavam em cima de um montinho de terra, mas agora já não fazem o poiso para as armadilhas e é muito difícil de detectar ao longe”, observa.

O vigilante sustenta que o quadro penal previsto para os que forem apanhados a prevaricar - pena de prisão até seis meses ou multa até 100 dias – é suficiente para dissuadir os mais ousados, mas reconhece que a profissionalização está a dificultar a sua tarefa, pois já não é um simples “hobby” mas, muitas vezes, o sustento de casas de família inteiras que está em causa.

A dificultar ainda mais o trabalho das autoridades e a dar dores de cabeça as ambientalistas, está o facto de as armadilhas serem vendidas nos mercados e feiras tradicionais um pouco por todo o País, o que não é ilegal, garante João Ministro.

A juntar a este problema, também a apanha de aves vivas, nomeadamente o pintassilgo, o mergulhão e o pintarroxo, está a dar algumas dores de cabeça aos defensores da Natureza.

João Prudêncio

Um comentário:

Anônimo disse...


o extermínio continua! milhares de pequenas aves são sacrificadas para o tradicional petisco sem que se saiba quantas espécies estão em vias de extinção, mas deixou de haver passarinhos a voar, quando há anos eram aos bandos, um património que não se valoriza e que os nossos filhos e netos só irão encontrar em fotos da internet
ninguém é culpado, castigado por encher a barriga dessas aves sem defesa que nos protegiam das pragas e dos maus insetos
ano após ano tudo numa boa :(((