Graves motins raciais incendeiam Sul de Espanha
As ruas de um bairro social perto de Almería, uma das maiores cidades andaluzas, ficaram a ferro e fogo depois de imigrantes africanos terem vingado a morte de um vizinho do Senegal incendiando a casa do presumível assassino. A polícia demorou sete horas a controlar a situação.
Pareciam cenas de um filme de acção, made in Hollywood. Com a diferença de ter sido bem real. A madrugada de domingo foi explosiva no bairro social de 200 Viviendas, em Roquetas, nos arredores de Almería, cidade andaluza, no extremo sul de Espanha. Algo que faz lembrar os recentes acontecimentos em Loures.
Tudo terá começado com distúrbios entre negros e ciganos numa das artérias do bairro, onde a droga circula "noite e dia", segundo revelaram vários moradores citados pela imprensa espanhola. Uma das turbulentas discussões de rua, habituais em 200 Viviendas, terminou desta vez pior do que é costume, com a morte de um imigrante africano a golpes de navalha.
Foi o rastilho que faltava para pôr o bairro a ferro e fogo: centenas de africanos ocuparam as ruas, na caça ao cigano, enquanto iam incendiando carros e contentores. Impediram as ambulâncias e os veículos de bombeiros de entrarem no perímetro dos conflitos e rumaram à casa onde vivia o presumível assassino - de etnia cigana, segundo o El País - que acabaram por incendiar. O morador encontra-se agora em paradeiro desconhecido.
Não foi a única: pelo menos outra habitação também foi destruída pelo fogo, enquanto as forças especiais da polícia procuravam abrir caminho para o interior do bairro - onde cerca de 25% por habitantes são de origem estrangeira - sob uma chuva de pedras e garrafas.
Só sete horas depois as ruas se pacificaram com a intervenção de 20 patrulhas da Guarda Civil, reforçadas com efectivos da Unidade de Segurança Cívica. Isto não evitou que sete veículos da polícia e duas viaturas dos bombeiros tivessem sido danificadas. Três agentes foram hospitalizados com ferimentos ligeiros.
A Guarda Civil deteve quatro imigrantes supostamente envolvidos nos desacatos. Têm entre os 19 e 33 anos de idade, sendo dois deles naturais da Guiné-Bissau. Os outros vieram do Sudão e da Nigéria.
O senegalês assassinado, que tinha 28 anos, era uma pessoa com muitos amigos no bairro. Testemunhas citadas pela imprensa espanhola referem que este operário, pai de duas filhas, nada tinha a ver com o tráfico em Roquetas: limitou-se a tentar pôr fim a uma violenta discussão entre africanos e ciganos. Sonhava conseguir um visto de residência definitiva em Espanha, onde se encontrava há três anos. Jamais concretizará este sonho - ou qualquer outro.
Elementos da associação Almería Acolhe negam que esta morte trágica se tenha devido a impulsos racistas. Mas velhos residentes no bairro, contactados pelos repórteres espanhóis, relatam diversas histórias de cunho xenófobo relacionadas com a disputa de território destinado à venda de droga, transformando este arrabalde de Almería num autêntico supermercado ao ar livre.
Este foi o mais grave conflito com aparentes motivações étnicas registado em Espanha desde Fevereiro de 2000, quando centenas de espanhóis atacaram imigrantes marroquinos na localidade andaluza de El Ejido, também em Almería, depois de um indivíduo com esta nacionalidade ter assassinado uma jovem de 26 anos.
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